domingo, 7 de abril de 2013

35º Capitulo: "...E o Ezequiel não é nenhum engatatão..."

Almoçamos no habitual restaurante que íamos, no Guincho, e eram cerca das 15:30h quando chegamos ao estádio. 
A Ana adorava vir ao estádio. Diz que um dia, quando for grande, vai ser aquela a sua casa. Não sei se é por a trazer a todos os jogos, se por pura simpatia, mas ela vive tudo o que aquele estádio lhe transmite. 
Depois de insistirmos um pouco com o segurança, conseguimos que ele nos permitisse mostrar algumas zonas do estádio à Patrícia...quem lho mostrava era a Ana, que quando tinha alguma duvida do sitio onde estava perguntava-me.
- E aqui é a reuva - tínhamos chegado ao relvado. O estádio vazio parece tão maior. Quando está cheio, com todos os nosso adeptos nas bancadas perdemos a noção da imensidão que este estádio é. 
- Belos tempo que aqui passamos... - comentou o Enzo. 
- Podes crer.
- Pai? - chamou-me a Ana. 
- Diz, pirralha.
- Eu podo correr? 
- Queres correr onde? 
- Na reuva...
- Tá molhada. 
Ela baixou-se e meteu a mão na relva.
- Não tá não, papá. 
- Então podes. Mas não te canses muito. 
- Tá!
Ela começou a correr pela relva...e puxou a Patrícia com ela. 
- Como é que depois dos treinos ainda tens força para aquela matolona? 
- Nem sei...acho que o facto de ela me animar um pouco é o bastante para conseguir ter energias...
- Ela faz muitas perguntas?
- Se faz!
- Da mãe?
- Sim...ela...tem uma ligação com a Ana que eu não consigo explicar. 
- Como assim?
- Ela diz que fala com a mãe...eu acredito, a imaginação das crianças dá para isso, mas mesmo assim...acho que há mais qualquer coisa que as une.
- Mano...elas são parecidas. 
- Se são.
- Quando é que pensas em avançar? - sabia perfeitamente ao que o Enzo se referia...
- É cedo...
- Cedo Ezequiel? Já passaram 3 anos...
- E tu achas que eu agora do nada vou arranjar outra pessoa? A Ana será o meu eterno amor...como ela eu não vou amar ninguém. 
- Amas a tua filha. 
- É diferente...muito diferente Enzo. 
- Já viste? A Ana é feliz, ela dá-se bem com toda a gente...
- Ela ainda hoje de manha teve uma conversa comigo sobre namoradas...por causa da tua irmã. 
- Da Patrícia? 
- Sim. Primeiro perguntou-me se ela era bonita e eu disse que não sabia e perguntei-lhe porque é que ela perguntava isso...há cerca de três semanas que me anda com a conversa das namoradas. 
- Ah! E queria que namorasses com a minha irmã? 
- É maluca o que é que queres?
- Queres dizer-me que não namoravas com a minha irmã?
- Achas? É tua irmã Enzo...
- E? Qual é o problema? 
- Sabes bem que não... 
- Mas ela nem é do meu sangue. 
- Mesmo assim! Olha mudando de assunto!
- Chuta.
- Ela só vai começar as aulas para o próximo ano lectivo, certo?
- Sim. Só em Setembro. Agora vai ficar por cá, depois vai dois meses para África e depois volta para aqui para começar as aulas. 
- Para África? 
- Voluntariado...mais uma coisa que ela tinha na cabeça. 
- Faz muito bem. Mas, que achas se ela ficasse lá por casa? Escusava de estar num hotel. 
- Achas? Nada disso. Só te ia dar mais trabalho. 
- Ela tem 2 anos por acaso? 
- Não, tem 21, mas não, não posso aceitar. 
- Não és tu que o tens de fazer... - elas continuavam as duas a correr, se bem que já estavam mais a andar depressa do que a correr. 
- Piolha!? - chamei a Ana, que veio a correr ter comigo e peguei-a ao colo - não estás cansada?
- Não! Posso ir correr mais?
- Não...a Patrícia já deve estar cansada.
- Estás cansada Patrícia? - perguntou ela à irmã do Enzo. 
- Não...
- Vês papá! Ewa não tá cansada!
- Mesmo assim...
- Então posso ir correr com o tio?
- Anda - o Enzo tirou-ma dos braços e desataram os dois a correr pelo relvado. Brincavam, riam-se...e a minha pimpolha de tentar correr mais depressa caía. 
Aproveitei que estava ali com a Patrícia, que se desmanchava a rir com o que se passava, para falar com ela. 
- Patrícia...
- Sim? 
- Eu estive a falar com o Enzo, sobre a tua estadia em Lisboa. E queria fazer-te uma proposta.
- Diga.
- Ei...afinal são duas. Primeira: esse você tem de desaparecer...podes não lembrar-te, mas já nos conhecemos. 
- Oh...é do habito.
- Tens de perde-lo então. 
- Vou tentar.
- Bom, mas a minha proposta é de tu ficares connosco lá em casa.
- Na sua...tua casa?
- Sim. Ficavas por lá, escusavas de estar num hotel ou mesmo a alugar um quarto. E como tu e a Ana se dão bem...
- Não sei se posso aceitar.
- Podes podes. Ajudavas como podias, nada de dinheiros que vocês para mim são família  Ajudavas lá por casa, e sempre era mais uma pessoa que a Ana passava a chatear a cabeça - ela gargalhou e olhou para a Ana, para breves segundos depois olhar para mim. 
- O que é que o Enzo acha? 
- Ele não tem de achar nada. Que é que tu achas? 
- Oh...eu não sei...não quero ser um intruso lá por casa.
- Mas se eu estou a oferecer...
- Então eu aceito. Mas tenho de falar com o Enzo sobre tudo.
- Só se for para ele te levar as malas para casa.
Ela voltou a rir-se...ela é simpática, dá-se bem com a Ana, poderá ser uma boa companhia lá por casa e...é bonita. Não tem nada a ver com o Enzo ou com a Sol, a outra irmã dele, porque a Patrícia é adoptada. Quando a conheci ela tinha uns 14 anos e era feliz...mas, apesar de se rir bastante com a Ana...o olhar não tinha qualquer brilho que uma pessoa na idade dela deve ter. Se a mudança que ela fez,de país, de continente, foi por impulso...de certeza que algo está por detrás disto. 
- Ei crianças!? - chamei, metendo-me com eles.
Vieram os dois a correr e a Ana agarrou-se às minhas pernas.
- Pega ao colo pai - pediu-me ela, e eu acedi ao seu pedido. 
- Ana...a Patrícia vai morar connosco. 
- Vai!? 
- Sim. Assim podes estar com ela, podem ser amigas e ela nem gasta muito tostão.
- Tá bom. E ela vai domir no meu quarto?
- Não. Ela vai ter o quarto dela.
- E vai já hoje? 
- Mas...quem é que decidiu isto tudo? - perguntou o Enzo.
- Está decidido mano.
- A Paticia vai mora comigo - e deitou a língua fora ao Enzo. 
- Tou feito...e tu porta-te bem! - virou-se ele para a irmã.
- Até parece que eu sou algum bicho papão com quem se pode lidar...
- Sei que não...mas não te deixes levar.
- Com o que? A Ana não me vai dar nenhuma trinca pois não?
- Eu não dou - respondeu a minha filha. 
- Vês!? E o Ezequiel não é nenhum engatatão, como aqueles argentinos que nós conhecemos. 

Lembrança: 

- Tem uma boa noite engatatão – disse ela.
- Buenas noches princesa.
- Esse teu espanhol irrita-me profundamente – ela aproximou-se, mas cambaleou e ia caindo para o lado.
- Se eu não estivesse aqui quem é que te agarrava?
- O chão! Não penses que causava muito estrago.
- Tu bêbeda respondes ainda mais.
- Respondo sempre a tudo e até a engatatões.
- Vejo que sim. Vem, eu levo-te para o quarto.
- Bem! Isso é logo assim com as outras? Tu dizes que as levas e elas caem?
- Tudo bem. Boa noite – larguei-a e fui em direcção do meu quarto.
- Boa noite muchacho - foi a última coisa que ouvi dela naquela noite.

Fim da lembrança.

- Está tudo bem? - perguntou o Enzo, despertando-me daquele transe...
- Sim...desculpa. Lembrei-me de uma coisa. 
- Do que papá? 
- Da mamã...
- Poque? 
- Porque a mamã chamava ao pai engatatão. 
- O que é isso? 
- Quando fores mais crescida percebes, mas também se não perceberes é bom sinal. 
- Não pecebi nada...
- Não faz mal.
- Então podemos ir pa casa? Quelo ir bincar.
- Mais?
- Sim. 
- Sim, vamos para casa. Vocês? Querem jantar por lá? 
- Não achas que ficares com a minha irmã lá não é suficiente? 
- Tudo bem...não querem a nossa companhia tudo bem...
- Não é isso. Temos umas coisas combinadas com a família da Rita. 
- Ela também veio? 
- Sim. Foi ter com a família dela e nós vamos jantar com eles.
- E não me dizias que a tua noiva está cá?
- Amanhã ela está no estádio por isso não te preocupes.
- Acho bem. 
Saímos do estádio e fui deixá-los ao hotel, para de seguida ir para casa com a Ana...que o queria era dormir a sua sesta e não brincar. 

18:30h
Estava a estranhar a Ana ainda não ter acordado, por isso fui até ao quarto dela e ouvi-a a falar: 
- ...eu sei mamã...mas o pai não quer gostar de mais nenhuma menina. E se eu digo a ele que tu dizes ele pensa que é mentira - ela fez uma pausa, para voltar a falar - mas pode ser que a Paticia mude ele...ela é bonita...pareces tu mamã. Ela hoje brincou muito comigo e chamou-se estrelinha, como tu chamas.
Toda aquela conversa...era surreal. A Ana não só "falava" com a mãe, como...parecia ter algum tipo de resposta. Será tudo da imaginação dela? Decidi não assustá-la e voltei ao andar debaixo, mas tinha de andar com mais atenção...poderia ela precisar de ajuda. 

6 comentários:

  1. Adddooorrrrreeeeeeeeeeiii!!
    Ainda bem que a Patrícia aceitou ir para casa do Garay. Agora fiquei curiosa com esta parte final da Ana falar com a mãe.

    Próximo rapido!!

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  2. Adorei quero o proximo.bjs

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  3. juro que adoro isto, mas ainda não aceito que ela tenha morrido :c
    só espero gostar da Patricia, tanto como gostava da Ana....
    mas pronto a menina é uma princesa, e tem um pai que é um Deus, e merece ser feliz!!
    quero o próximo, ((:

    besos, Débora*

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