segunda-feira, 26 de agosto de 2013

46º Capitulo: "Bela maneira de me chamares vaca agora."

Com o acordar de Sergio da operação delicada, o ambiente entre todos tornara-se mais leve. Os planos foram alterados. O primeiro Natal de Ana e Ezequiel já não seria em casa deles. Ana queria ficar junto de Sergio, queria estar junto da sua família. E Ezequiel? Queria estar junto da dele. Os seus pais, os seus irmãos, a sua noiva e o seu filho. Não os iria deixar sozinhos numa época tão especial como o Natal. 
Passaram esta época em Madrid. Na casa onde eles se conheceram pela primeira vez: a casa de Sergio. Estavam todos presentes. A família de Ana: os seus pais, tios, primos, Sergio fora passar o Natal a casa. E isso era o que Ana mais desejou durante todo os dias que esteve a seu lado. A família de Ezequiel: os seus pais e os seus irmãos. E estava lá a pequena família a formar-se: Ana, Ezequiel e Enrique Garay. Ana não tinha o apelido...em breve o teria, mas o que os une aos dois já é mais forte do que qualquer pedaço de papel que comprove que eles são marido e mulher.
Não podiam viver entre Madrid e Lisboa. Ezequiel tinha de voltar ao treinos com o Benfica depois do inicio do novo ano, mas Ana queria ficar mais tempo com o seu primo, que agora começava a fase da recuperação. Ambos não queriam ficar longe um do outro. Ambos sentiam que isso não seria fácil de ultrapassar. Mas foi o que fizeram. Ana ficou em Madrid e Ezequiel regressou a Lisboa. Enrique...o pequeno rebento dos dois, parecia que tinha mudado. Ana sofrera imenso com os enjoos, os movimentos do filho, as dores que aumentavam a cada dia que passava, mas, quando tinha Ezequiel do outro lado da linha ou à sua frente através do Skype tudo mudava. O filho descansava e tudo desaparecia por instantes. 
Estarem separados quase um mês custou-lhes, mas quando Ana regressou a Lisboa parecia que a relação dos dois era ainda mais forte. Algo muito mais forte os unia e os tornou muito mais cúmplices. 
2013 era O ano. Era o ano em que Ana ia ser mãe, provavelmente casaria com o homem dos seus sonhos, iria ter a vida que sempre quis. 

(Ana)
24 de Março 2013

Parto previsto para daqui a duas semanas. Irei deixar de ter o meu menino dentro de mim para vir para os nossos braços. A imagem do parto...é algo que me assusta, é algo que receio mas, ao mesmo tempo, é algo que quero muito. Quero que esse momento chegue para que possa sentir a pele do Enrique, sentir o seu corpinho nos meus braços e começar a aventura de se mãe.
Seria, também, o último dia a trabalhar. Iria fazer apenas o dia de hoje e depois parava. Iria começar a preparar a mala da maternidade e a descansar. E depois do Enrique nascer será complicado vir para o salão tão depressa. 
Apesar de ser Domingo, o salão estaria aberto da parte da manhã e a única marcação que eu tinha para mim era da Tamara. Os seus cinco meses de gravidez, em tamanho de barriga, equivalem aos meus seis. Vai ter uma menina que ainda não tem nome. 
Estava no escritório quando ela chegou:
- Buenos dias! 
- Buenos dias! - fui ter com ela, dando-lhe dois beijinhos e um abraço. As barrigas chocaram o que fez com que o Enrique se manifesta-se. Acho que ele já conhecia as pessoas mesmo na barriga. Tinha uma reacção diferente para cada uma delas. 
Quando passei a barreira dos cinco meses a minha barriga nunca mais parou de crescer e mais parecia que ia rebentar a qualquer momento. 
- Como é que estão? - perguntou ela.
- Tudo bem e vocês as duas?
- Perfeitas! Amanhã já estamos com o papá outra vez! - a Tamara tinha vindo a Portugal para nos fazer uma visita e para eu ajudar com umas coisas que ela precisava para o bebé. 
- Isso é que se quer! Queres ir já despachar as unhas? 
- Tens muita coisa para fazer? 
- Não, o salão só está aberto de manha e és a minha única marcação. A Inês e a Mariana é que estão mais ocupadas. 
- Então podemos ir já e depois falamos um bocado. 
- Com certeza - fomos até ao meu posto de trabalho e tratei das unhas da Tamara. 
Era impossível não me rir junto dela, quase que as unhas não saiam nada de especial mas...lá ficou um belo trabalho. Fomos para o escritório de novo e eu retirei a camisa preta do salão ficando apenas de calças e o soutien de desporto...ultimamente eram os únicos que me serviam.
- Ana, deixa-me tirar uma última foto com o meu afilhado na tua barriga antes de ir para Madrid... - pedinchou a Tami. 
- Tu e as fotografias com a minha barriga. 
- Já que não posso ter uma a beijar a minha... - ambas gargalhamos com uma vontade extrema. 
- Vai lá fora e chama uma delas para tirar a foto, se faz favor. 
A Tamara saiu por um instante e voltou com a Mariana. 
Figurinhas feitas, fotografia tirada e partilhada no twitter da madrinha mais babada à face da terra: 

"Mi pequeño en el horno! Casi con su madrina, Enrique!"
A Tamara acabou por ficar a manhã toda comigo no salão e, quando estávamos a fechá-lo, comecei a sentir umas picadelas no fundo da barriga esquisitas. Não dei importância e segui com a Tamara para o centro comercial onde íamos almoçar. 
A tarde foi toda passada com ela até que a deixei no hotel onde tinha ficado e fui para casa. Era a folga do Ezequiel e ainda nem tinha estado com ele. E ainda nem lhe tinha ligado nem ele a mim, o que era muito estranho.
Assim que meti as chaves em casa ouvi logo o Lucky a ladrar e quando abri a porta estava ele a receber-me aos pulos. 
Cheirava a comida acabadinha de fazer! Quase que apostava que era bacalhau...o Ezequiel tinha feito o jantar? Deixei a mala no sofá da sala e comecei a ver pétalas de rosa brancas espalhadas pelo chão. Segui o rasto e fui parar à cozinha. 
Mesa para dois, rosas vermelhas em cima da mesa e velas acesas. O meu pequeno tinha feito um jantarzinho romântico. 
- Ezequiel? - chamei olhando para o corredor. Ele apareceu, vindo do quarto, com um sorriso enorme nos lábios. 
- Olha quem já chegou... - ele veio ter comigo, dando-me um beijo - que achas? - perguntou ele olhando para a cozinha. 
- Está tudo muito lindo, mas parece-me que há aqui mãozinha de alguém... - posso ser desconfiada, mas também sei que o Ezequiel era bem capaz de fazer tudo aquilo sozinho. 
- Está aqui um homem a esmerar-se o dia todo e ela desconfia que não fui eu que fiz. Está bonito - não sei se o amuo era a fingir, se era a sério, mas era melhor que ele ficasse mais animado. Virei a cara dele para mim e beijei-o. 


- Obrigada, meu amor.
- Temos de festejar! 
- O que há para celebrar?
- O fim do teu trabalho. 
- Ezequiel...
- Ana, já estava mais do que na altura de deixares o salão. Tens andado a trabalhar imenso. 
- Mas estamos bem, ou não?
- Agora estás porque andas a tomar as vitaminas!
- Sim, paizinho! Vamos jantar que o bebé e a mãe estão com fome. 
- Vou lá dentro buscar as tuas vitaminas, então. 
- Deixa estar...vamos já jantar.
- Não. Tu tens de tomá-las.
- Tudo bem! - ele voltou a sair da cozinha e eu virei-me para ver tudo aquilo. O meu homem tinha mesmo feito tudo aquilo para o nosso jantar.
O momento que se seguiu...foi estranho. Senti algo quente a escorrer-me pela perna. Olhei para o chão e, em cima de uma pétala da rosa, estava uma pinga de sangue fresco.


- Ezequiel! - gritei por ele, vi tudo turvo e apaguei. 

(Ezequiel)

Estava já a regressar à cozinha com as vitaminas da Ana, quando a ouvi gritar o meu nome. Assim que entrei na cozinha o cenário...era horrível. 
A Ana estava deitada no chão, desmaiada, e com uma poça de sangue junto a ela. Apressei-me a colocar-me ao lado dela. 


Não, não, não, não! Isto não me podia estar a acontecer! As imagens começaram a passar-me pela cabeça e o sonho da morte da Ana veio-me à cabeça. Não! A Ana estava bem e isto não podia estar a acontecer! 
Não havia tempo a perder. Não havia tempo para chamar a ambulância. Peguei nela ao colo, levantando-a para o carro. O sangue dela...nas minhas mãos atordoou-me. Era o sangue da minha Ana que estava espalhado na minha pele. Limpei-o à camisola e conduzi o mais depressa que consegui até ao hospital mais perto. 
Assim que lá cheguei, retirei a Ana do carro e levei-a ao meu colo até às Urgências. 
- Ajudem! Por favor ajudem-me! - uma senhora que ali estava perto, vestida como enfermeira ou auxiliar, veio na nossa direcção - por favor, ajude-me!
- Venha atrás de mim - lá fui atrás da senhora que me levou até uma sala onde estava uma maca. Pousei a Ana lá em cima e depressa montes de médicos e enfermeiros já estavam ao lado dela - o senhor agora venha comigo - saímos daquela sala, ficando ali à porta. 
- Eu preciso de estar com ela. 
- Fique descansado que iremos fazer de tudo para estar com ela. Mas, sabe o que se passou?
- Não, eu não sei nada. Nós íamos jantar, eu fui buscar as vitaminas que ela anda a tomar e quando voltei ela estava desmaiada. 
- Ela tem uma gravidez de risco?
- Não, tudo normal. 
- Fique aqui um pouco que eu vou lá dentro ver o que se passa. 
- Obrigado - a senhora entrou, mas pouco tempo depois voltou a aparecer - então, como é que ela está?
- Está consciente, mas a entrar em trabalho de parto. A hemorragia deveu-se ao rompimento da bolsa do feto, mas está controlada. Vamos prepará-la para dar entrada no bloco de partos. O senhor quer assistir?
- Claro! Claro que sim! - era um alivio. Respirar fundo e saber que ela está bem. E que o nosso filho vai nascer...hoje!? Estava marcado para daqui a duas semanas, será que estava tudo bem com ele? 
Entrei para o bloco de partos e a Ana já lá estava. Já toda ela estava suada. O sofrimento que a cara dela transmitia era horrível. Ela tinha medo deste momento. O parto era o que ela mais tinha medo. Depressa me coloquei ao lado dela, que me agarrou na mão com uma força que parecia que me ia partir os dedos todos. 
- Porque é que ele quer nascer hoje!? - gritou ela, em pânico e com raiva do que estava a acontecer - Eu quero que isto acabe! Dói tanto Ezequiel! 
- Calma - coloquei a minha testa na testa dela, estava quentíssima! - dentro de nada vai acabar. 
Ela berrou no segundo a seguir. Um som que se deve ter ouvido na outra ponta do hospital. O seu tronco estava levantando e a certeza de que os meus dedos não iam aguentar muito mais tempo aumentava. 
A Ana fazia uma força que nem eu pensei que ela tivesse. E, era o Enrique que estava a dar-lhe essa força. Sabia disso. 
Ela voltou a encostar-se e controlar a respiração. Ela chorava, mas ao mesmo tempo voltou a ter um sorriso nos lábios. 
- Ainda falta muito!? - perguntou ela desesperada. 
- A cabeça já está quase cá fora. Ana, na próxima contracção faça mesmo muita força, pode ser? - respondeu-lhe o médico.
- Ainda me pergunta? Se eu não a fizer ele fica aí entalado!
- Tem razão! E não queremos aqui bebés entalados - naquele momento todos nos rimos que nem loucos. Nunca tinha imaginado que este momento fosse assim. 
A Ana ria-se com vontade, estava mais confiante de que era capaz de trazer ao mundo o nosso filho. Coisa que ela duvidou durante algum tempo...
- Ana, não se esqueça: na próxima contracção muita força.
- Acho que vem aí! - ela voltou a apoiar-se na minha mão e levantou o seu tronco. E eu agi. Como nos tinham ensinado nas aulas de preparação para o parto. Coloquei o meu braço esquerdo nas costas dela, para que ela não fizesse tanta força nos seus ossos. 
A força desta vez era diferente. Era controlada, forte, demasiado forte, mas que no fim...fez com que o som mais maravilhoso do Mundo se fizesse ouvir. Era o som do pequeno Enrique. Nos seus plenos pulmões chorou pela primeira vez. 
A Ana encostou-se na cama, chorando. Dei-lhe um beijo na testa e o médico mostrou-nos o nosso filho. Era lindo, frágil, indescritível. Contudo, estava demasiado roxo. 
- Doutor, porque é que ele está tão roxo? - perguntou a Ana, em pânico. 
- Precisamos de fazer uns testes - levaram da sala o Enrique e eu olhei para a Ana, que chorava. 
- O que é que se passa com o nosso filho?
- Vais ver que está tudo bem... - queria ter esperanças, mas parecia que o menino estava a ser asfixiado. 
- O senhor agora tem de sair um pouco. Vamos preparar a Ana para ir para o quarto. 
- Com certeza - dei-lhe um beijo nos lábios e fui até à sala de espera. 
Cerca de 20 minutos depois o médico veio ter comigo. 
- Então doutor?
- A mãe está bem. Estava um pouco alterada e com uma pulsação muito acelerada  com dores e por isso demos-lhe uma pequena dose de um calmante para ela descansar um pouco. 
- E o meu filho?
- Está bem, não se preocupe que não corre perigo de vida. Teve um pequeno problema, mas estamos a fazer mais exames para descobrir o porque. 
- Mas o que é que ele teve?
- Uma trombocitopenia. 
- O que é isso, doutor?
- Bom, explicando muito rapidamente: é quando as plaquetas no sangue diminuem em massa. 
- Mas isso é grave. 
- Sim e vamos ter de cuidar bem do rapaz, mas foi detectável a tempo. Diga-me, a Ana andava a tomar comprimidos não era?
- Sim, umas vitaminas. 
- E essas vitaminas eram completamente naturais?
- Sim. 
- Quando isto acontecesse, o mais natural é que seja uma dosagem excessiva de um medicamento. Penso que a causa tenha sido essa. Apesar de serem vitaminas naturais, o bebé pode não ter reagido bem a elas. 
- E agora? Como é que ele vai ficar?
- Ele vai ficar bem, não se preocupe. Está já a ser seguido por um especialista e iremos fazer alguns testes para ver se ele ficou alérgico a algum medicamento. 
- Isso é possível? 
- Na maioria dos casos sim. Iremos ver o que acontece ao vosso filho. Preciso que me dê o nome dele. Está identificado só com o nome da mãe, mas queremos por tudo conforme o previsto. 
- Enrique. Sem H. 
- Daqui a pouco a Ana estará no quarto. O pequeno ficará ainda umas horas sob observação, mas nada de alarmes. 
- Muito obrigado doutor. 
- Ora essa. Muitas felicidades é o que lhes desejo.
- Obrigado.
O alivio de saber que tudo estava bem era para lá de maravilhoso. 
Em horas o dia tinha mudado. Tinha deixado de ser o dia em que fizemos o nosso último jantar romântico com barrigão para ser o dia em que o nosso filho nasceu. No dia 24...as coincidências não podem existir. São factos o que acontece.
A Ana foi para o quarto e eu coloquei-me ao lado dela, dando-lhe a mão, e avisei os nossos parentes do sucedido. Ela dormia. Estava calma, mas com um brilho que até então não lho tinha visto. 

(Ana)

Teria eu estado a sonhar? Os meus medos do parto já me andavam a afectar há imenso tempo! Comecei a abrir os olhos e então percebi que nada era um sonho.
As dores eram reais. O Enrique tinha nascido! Mas porque é que eu tinha estado a dormir? Olhei à minha volta e o Ezequiel estava sentado ao meu lado. 
- Buenos dias... - disse ele sorrindo. 
- Buenos...hã?
- Estás a dormir há algum tempo, mas ainda é de noite - ele levou a minha mão até si e beijou-a - como é que te sentes?
- Dorida...cansada. O Enrique?
- É normal estares cansada, amor. O nosso bebé está bem. 
- Onde é que ele está?
- Estão a fazer-lhe exames e testes para se certificarem de que está mesmo bem e não tem sequelas. 
- O que é que aconteceu?
- Ora...o Enrique nasceu, mas nasceu com um problema. 
- Um problema? - tentei mexer-me mas foi em vão. Não me conseguia mexer com as dores 
- Sim, ele teve uma trombocitopenia. 
- Uma que?
- Vou tentar explicar: o Enrique nasceu com falta de plaquetas no sangue. Os médicos pensam que ele seja alérgico às vitaminas que tomaste. 
- Ele...nasceu com isso por minha causa?
- Não, não. Ana, não tens culpa de nada, ouviste!?
- Como não? Eu é que tomei as vitaminas! 
- Sim, mas não tens culpa. O Enrique é que deve ser alérgico a elas. 
- Mas ele...não corre perigo?
- Não. Ele está bem, já está todo estabilizado. E a ganhar a corzinha dele. 
- Já o viste depois de ter nascido?
- Já e acredita que vais gostar mais de o ver como está. E é parecido comigo. 
- Ezequiel...sabes bem que não vale ser convencido nestas alturas. Tens de admitir que o teu filho deve ser muito mais lindo que tu. 
- É verdade - fechei os olhos por uns segundos e quando os abri já tinha o Ezequiel quase em cima de mim - queres ficar viúvo antes de casar?
- Tu não brinques com isso que eu apanhei um susto hoje. 
- Pois foi meu amor, desculpa - perdi sangue e desmaiei...depois do sonho que ele teve não é o melhor cenário para ver a sua grávida.
- Eu estou tão feliz, mi reina - disse ele, depositando um beijo nos meus lábios.
- Eu queria dizer o mesmo...não penses que não estou feliz, porque estou. E muito. Mas estas dores...e o Enrique não estar aqui...não ajudam. 
- O Enrique daqui a pouco já estará por aqui e as dores vão passar. Não podes tomar muitos medicamentos por causa do teu leite. 
- Bela maneira de me chamares vaca agora.
- Ana...
- Ezequiel, é uma maneira de eu tentar não pensar que me dói tudo do pescoço para baixo. 
- É assim tanto? Pensei que fosse só da cintura para baixo...
- Ezequiel...o leite deve estar a subir-me às mamas, a minha barriga está dorida e falar do resto é penoso demais. 
- Vou chamar a enfermeira a ver se te pode dar alguma coisa. 
- Não, não é preciso. Isto tem de ir com calma ao lugar, sem químicos  Ajuda-me só a deitar-me de lado. Sabes que não gosto de estar assim.
- Tudo bem - pensei que fosse morrer no momento que se seguiu. 
Por muito que o Ezequiel se esforça-se a ter muito jeitinho as dores eram loucas! Eram extremamente horríveis! Se, de me virar na cama chorei, estou para ver como vai ser quando me levantar ou dar de mamar ao Enrique. 
Por alguns minutos ficámos os dois só a olhar um para o outro e a brincar com as mãos um do outro. As dores pareciam diminuir, mas mesmo assim não desapareciam. 
De vez em quando, uma ou outra enfermeira vinham ver como estava e controlar o saco de sangue. Estava a receber meio saco de sangue devido ao que tinha perdido antes e durante o parto. 
- Ezequiel...o meu telemóvel?
- Não o trouxe...
- Tens o teu?
- Tenho. 
- Empresta-me. Já que só daqui a uma hora é que o Enrique pode vir para a aqui vou tirando fotos a este belo quarto de hotel. 
- Ou seja, vais para o Insta. 
- Sabes, viciei-me naquilo e as pessoas gostam de ir recebendo notícias. 
- Aproveita para dizeres que já acordaste. Os teus pais e a Tamara ficaram ansiosos e assim podiam descansar. 
- Já os avisaste a todos?
- Sim. A Tamara disse que vinha cá ter ainda hoje, mas ainda não apareceu. E os teus pais vêm amanhã para cá. 
- E os teus?
- Já estão a vir. O avião que partia mais depressa da Argentina para cá saiu de lá à uma hora. 
- Então vamos cá divertirmo-nos um bocadinho. E tu dorme. 
- Durmo?
- Ezequiel, estás a cair de podre! Ainda não deves ter dormido nada. 
- Não...
- Então descansa. 
- Só um bocadinho? Quero que me acordes quando o menino chegar. 
- Claro - ele foi deitar-se na cama que estava a meu lado, a cama do acompanhante, e adormeceu num instante...o sono que ele tinha era notório nos seus olhos. 

Passou uma hora. E nessa hora eu distraí-me de tudo. Fiquei perdida pelo Twitter e o Instagram, actualizando tudo. Que estava bem, que estava dorida e coloquei lá algumas fotos com as respectivas descrições. 

"É nesta posição que as dores diminuíram. Ter um bebé custa taaaanto! Pior: ainda não o vi desde que nasceu."

"Quando se perde há que recuperá-lo."

"Eu não queria mais, mas estes dois são a minha salvação!"
Estava por lá a responder a umas perguntas quando a enfermeira entra com o berço. O berço do meu filho. A caminha do meu príncipe. E o meu bebé vinha lá dentro!
- Ana, como é que se sente?
- Melhor...as dores diminuíram depois de tomar os comprimidos. 
- Já sabe, se sentir algum desconforto, chame-me logo. 
- Claro. Como é que ele está?
- Perfeitamente saudável  Mantivemo-lo na incubadora para estabilizar a situação, mas já está com uma corzinha mais saudável e totalmente limpo. 
- E os testes? Ele ficou alérgico a algum medicamento ou assim?
- Não. A única coisa que reparamos foi mesmo que as vitaminas que tomava não lhe fizeram bem, mas não se preocupe que daqui para a frente o Enrique poderá fazer uma vida normalíssima em relação aos medicamentos. 
- Pode ajudar-me a pegar nele?
- Claro, mas primeiro vou retirar-lhe esses tubos do sangue. 
- Sim, obrigada. 
Enquanto a enfermeira veio ter comigo e me retirou tudo aquilo, o Enrique ia fazendo uns barulhinhos tão deliciosos. Ele era tão pequenino, mas tinha nascido com 47 centímetros e 3,325 kg. Um rapaz completamente saudável.
O Ezequiel, que ainda dormia, acordou meio abananado. Era bom que se habituasse a acordar com barulho do bebé, assim ia ganhando o jeito.
- Olha quem é ele... - o Ezequiel levantou-se e foi até junto do Enrique - nem parece o mesmo menino de à umas horas.
- O pai ajuda a mãe a pegar no bebé? - perguntou a enfermeira.
- Claro. 
- Vou dar-vos uns minutinhos os três. Daqui a pouco volto para tratarmos do assunto da amamentação, pode ser?
- Muito obrigada, senhora enfermeira - agradeci e ela saiu do quarto.
O Ezequiel ficou ainda alguns segundo a olhar para o Enrique antes de pegar nele. Quando o fez o meu mundo tornou-se um conto de fadas. A imagem que estava à minha frente era simplesmente maravilhosa. O Ezequiel tinha imenso jeito. Pegava nele com cuidado, mas tinha um à vontade surpreendente.
Ele veio na minha direcção com o menino e eu levantei a cama ficando com o tronco mais levantado de maneira a que conseguir pegar no Enrique. O Ezequiel ajeitou o menino e passou-o para os meus braços.
Não parecia nada o menino que tinha nascido roxo. É o ser humano mais pequeno que conheço, mas é o melhor de todos. É o meu filho. Esteve quase nove meses dentro da minha barriga, falei horas com ele, ele brincou lá dentro. A nossa ligação é inexplicável. Será eterna, sempre de mãe e filho, quero estar nos melhores e nos piores momentos da vida dele.


- Ele é tão lindo... - deixei escapar uma lágrima. Acho que era difícil não o fazer...ansiava por este momento desde que soube que estava grávida. Ansiei imenso por senti-lo juntinho a mim e agora que o tenho nos meus braços parece que tudo ficou ainda mais iluminado na minha vida. O Ezequiel sentou-se na cama juntinho a nós.
- Já quase não se nota o roxo.
- Olha os pezinhos dele - eram tão pequeninos, e onde o roxo se notava mais, mas mesmo assim era perfeitinhos. Devo ter ficado a olhar para todas as partes dele. Certificar-me de que estava inteirinho, de que é perfeitinho e que acima de tudo está saudável.
As mãozinhas, outra coisa maravilhosa que me deixou petrificada. Apaixonei-me pelo meu filho. Sentir o quentinho dele nos meus braços era reconfortante, sentia que ele nunca mais deveria sair dali.
- Ana - não queria tirar os olhos de cima do Enrique, mas o Ezequiel foi o primeiro dos homens da minha vida a chegar e merece tudo o que eu lhe posso e consigo dar - obrigada por me fazeres o homem mais feliz do mundo. Por me dares o que eu mais queria. O Enrique é a melhor prova de que o que tu e eu construímos nestes meses será para todo o sempre. Estaremos sempre juntos, ligados pelo nosso filho.
- Será para sempre mesmo, Ezequiel - eu chorava, o Ezequiel também e o único que estava ali tranquilo era o Enrique. Trocámos um beijo curtinho, mas que estava cheio de tudo aquilo que nos estava a rodear naquele momento. A nossa vida começou hoje. A nossa vida enquanto pais, enquanto protectores.
- Ele é tão perfeito - disse o Ezequiel, tocando no braço do filho.
- E é parecido contigo... - tinha de o admitir. O Ezequiel tinha razão. O Enrique era a cara chapada dele.
- Eu avisei e chamaste-me convencido. 
- Vais é andar todo inchado durante quanto tempo? Isso é que eu preciso de saber, não é? 
- Até ao fim da minha vida! A partir de hoje não tenho razões para não sorrir. 
- Então somos os dois.
Nisto batem à porta. O Ezequiel saiu de cima da cama, visto que era a enfermeira que entrava.
- Tem aí um belo menino. 
- Se tenho, senhora enfermeira. 
- Vamos tentar amamentá-lo?
- Claro - a enfermeira explicou-me tudo detalhadamente. Os bens que fariam ao bebé, que poderia ser desconfortável ao principio e ajudou-me a colocá-lo na posição certa.
E parecia que o Enrique já sabia o que tinha de fazer. Doeu, não posso negá-lo. Estava toda dorida e a força que o Enrique fazia para tentar sugar o leite por mais pequena que fosse parecia que nunca mais acabava. Ele acabou por se cansar de comer e adormeceu nos meus braços.
Eu coloquei o Enrique deitado a meu lado, enquanto que a enfermeira aproximou o berço da minha cama. Ela ausentou-se e eu virei-me de novo, ficando virada para o Enrique.
- Tenta dormir um bocadinho, amor - disse o Ezequiel.
- Não disseste que a Tamara vinha cá?
- Mas se ainda não veio, já não deve vir. Mas posso ligar-lhe.
- Faz isso - o Ezequiel ligou para a Tamara e tiveram uma breve conversa.
- Ela já está a chegar. Está na entrada do hospital. 
- Que bom. Empresta-me o teu telemóvel, amor. A minha mãe pediu-me que quando o Enrique estivesse connosco para a avisar de que estava tudo bem. 
- Toma - peguei no telemóvel e avisei quem me seguia no Instagram e Twitter.

"A ganhar a cor dele, o nosso menino já está connosco! 47 cm e 3,325 kg de pessoa, é a coisa mais linda deste mundo."
Entreguei o telemóvel ao Ezequiel e bateram à porta. 
- Entre! - dei licença para que entrassem, a porta abriu-se e do outro lado surgiu a Tamara. 
- Olá coisas boas - ela falou baixinho e fechou a porta. 
- Olá, madrinha! E podes falar normalmente para ele se habituar - avisei.
Ela chegou perto de mim e deu-me um beijo na bochecha, olhando de seguida para o Enrique. 
- Que coisa mais linda! Olá bebé, é a madrinha...eu sei que estás a dormir, mas quando estavas lá dentro também me ouvias - ela falava com o Enrique como se ele estivesse acordado - ele é lindo Ana. Está tudo bem, com ele?
- Sim, completamente saudável e não ficou com sequelas. 
- Ainda bem - ela sentou-se a meu lado - e tu? Estás muito cansada?
- Um bocadinho. Dói-me quase tudo...ainda agora ele amamentou e foi horrível  Mas é tudo muito bom, eu não te quero assustar. 
- Não assustas. Isso é mais que normal. Mas vê-se o brilho nos teus olhos completamente deliciados. 
- Ninguém estava à espera que a noite de hoje fosse passada aqui, mas estamos todos muito bem e só tenho vontade de o ter nos meus braços.
- Isso nota-se, mas vá eu vim cá só ver como é que vocês estavam e quero saber se queres que te vá buscar alguma coisa lá a casa. 
- Não, deixa estar. Não andes de um lado para o outro. O Ezequiel vai lá amanhã de manhã.
- Não me custa nada. Eu agora ia para o hotel e amanha de manha passava por lá e depois vinha ver-vos. 
- Não te importas?
- Claro que não. Vocês também precisam de descansar bem esta noite. E o Ezequiel a fazer as coisas ainda se esquece de algo - ela olhou para ele e todos nos rimos. 
- Obrigada, madrinha linda.
- De nada meu amor. 
- Ezequiel, dá as chaves à Tamara para ela lá ir amanha, então.
O Ezequiel fez isso e a Tamara voltou junto de mim dando-me um beijo e outro na cabeça do Enrique. 
- Descansem meu pequenos. 
- Fica descansada. 
Ela afastou-se e, antes de sair, avisou o Ezequiel: 
- Tu toma conta deles antes que eu te roube o lugar! 
- Sim senhora madrinha! - eles despediram-se e ela foi embora. 
O Ezequiel voltou para junto de nós e eu, confesso, já estava mais para lá do que para cá. 
- Vou por o Enrique na cama. Vais apagar a qualquer momento. 
- Obrigada - ele pegou no filho com cuidado, colocando-o no berço do hospital. Foi lindo ver o Ezequiel a aconchegar o bebé a a ficar perdido nos seus pensamentos. Voltou a sentar-se junto a mim, pegando-me na mão. 
- Agora descansa, que amanhã estarás melhor. 
- Eu amo-te. 
- E eu amo-te a ti - trocámos um beijo mais demorado para de seguida o silencio ficar naquele quarto. O Ezequiel permaneceu a meu lado até adormecer.
Sentir-me mãe é a coisa mais maravilhosa do mundo, sentir-se feliz e com um filho para cuidar é uma conjugação maravilhosa. É uma emoção louca que eu nem sei descrever. 

quarta-feira, 21 de agosto de 2013

45º Capitulo - "tu...tens de ter cuidado com o piolho."

Ana:

Saímos de Portugal exactamente às 16h e em uma hora e meia estavamos em Madrid. No aeroporto, tinha os meus pais à nossa espera. 
- Mãe! - assim que estava ao pé dela abracei-a - como é que está o Sergio?
- Ele ainda está a ser operado, Ana. 
- Ainda? 
- Sim...são operações complicadas e demoradas - respondeu o meu pai, visivelmente abalado. O Sergio era sobrinho dele, filho da sua única irmã. 
Dei um abraço ao meu pai e seguimos para o exterior do aeroporto. Fomos em direcção do carro do meu pai. Os meus pais seguiam nos lugares da frente e eu e o Ezequiel nos de trás. 
Depressa chegamos ao hospital e os meus pais levaram-nos até onde estavam os restantes. Estavam lá a minha tia e o meu tio, a minha prima Miriam com o marido e a filha, a sobrinha do Sergio, a Daniel e o meu primo Rene com a mulher, estava também a Mariza, a mulher do Sergio. 
- Tia! - era a primeira pessoa a quem quis dar um abraço. A minha tia, era como uma mãe para mim e vê-la chorar...parte-me o coração. 
- Ana... - estávamos as duas abraçadas e ambas a chorar. 
Depois de abraçar todos e de o Ezequiel também os cumprimentar, sentamo-nos na sala de espera, fiquei ao lado da minha tia, de mão dada com ela. 
- Já há alguma novidade? - perguntei. 
- Nada...nunca mais nos dizem nada.
- Mas não aparece aqui ninguém para falar com vocês? - inquiriu o Ezequiel. 
- Não meu querido, vieram cá quando começaram a operação e ainda não voltaram mais...
- Tia, vai ver que tudo vai ficar bem. O nosso Sergio é forte, tem a vida toda pela frente e Deus não o vai tirar das nossas vidas - em frente deles...queria pensar assim, mas se acontece algo? Se...o meu primo morre? 
A espera era terrível. Ninguém falava, ninguém queria abrir a boca. O marido da Miriam tinha ido embora com a Daniela, a menina estava a ficar muito assustada e decidiram que era melhor ela ir passear um pouco. A Mariza andava de um lado para o outro, ora estava sentada ou a andar. Os meus tios estavam sem reacções. A minha tia só chorava, o meu tio fazia de tudo para se conter. Os meus pais estavam ao lado deles, apoiando-os. Eu...depois de muito tempo sentada, levantei-me e caminhei um pouco encostando-me ao Ezequiel que estava encostado na parede. 
As mãos dele rodearam a minha cintura e eu encostei a minha cabeça no seu peito. 
- Nunca mais dizem nada...
- Ana...não aconteceu nada. Se ainda não disseram nada é porque ainda o estão a operar - disse o Ezequiel numa tentativa de me tranquilizar. 
- Achas mesmo?
- Sim...vais ver que daqui a pouco já vêm cá dizer alguma coisa - permaneci nos braços do Ezequiel, tentando afastar os pensamentos negativos...o que não foi nada fácil. 

Passou mais meia hora. Meia hora em que todos se esqueceram de onde estavam. A minha tia já tinha gritado, já tinha barafustado imenso. 
Eu ora me sentava, ora andava em pé...o Enrique não estava a ajudar. 
Estávamos todos sentados quando um médico chegou perto de nós. 
- São os familiares do senhor Sergio García? 
- Somos sim - respondeu o meu tio e todos nos levantamos. Agarrei-me ao Ezequiel...ele colocou um dos seus braços sobre os meus ombros...esperando pelo que o médico fosse dizer.
- Doutor, como é que está o meu filho? - perguntou a minha tia. 
­- Quero tranquilizar-vos, a operação foi um sucesso e o Sergio está fora de perigo. 
Naquele momento toda a tensão que existia naquela sala de espera se dissipou. Chorávamos, mas de alegria. Abracei o Ezequiel, que me beijou a testa e abafou o meu choro sufocante
- Foi uma cirurgia demorada, todo o processo é feito com muito cuidado porque andamos numa zona do corpo humano bastante sensível  Mas o Sergio está bem, ele está já no quarto. Mantivemo-lo no recobro até agora e já que ele está mais ou menos consciente viemos avisá-los. 
- Ele está consciente? - inquiriu a Mariza. 
- Está sim, apesar de lhe termos administrado agora uma medicação para ele dormir. Estava a queixar-se de dores na cabeça, o que é normal, e para ele descansar achamos melhor que ele dormisse um pouco. 
- Senhor doutor, podemos ve-lo? - perguntou a minha tia. 
- Vocês são uma família numerosa...podem ir dois de cada vez, mas não podem ficar muito tempo. O Sergio precisa de descansar. 
- Claro doutor. Muito obrigada por tudo. 
- É o meu trabalho. Os pais vêm primeiro?
- Sim... - os meus tios foram os dois com o médico e foram ver o Sergio. 
Dividimo-nos para decidir como é que íamos ver o Sergio. A Mariza ia com a Miriam, o Rene com a mulher, os meus pais os dois juntos e eu com o Ezequiel.
Cada visita estava a demorar cerca de dez minutos. Pelo que me iam dizendo o Sergio estava a dormir e não parecia acordar tão depressa. Quando chegou a minha vez de ir ver o meu primo, fui com o Ezequiel. 
Caminhávamos os dois lado a lado, de mão dada e em silêncio. Não eram precisas palavras. Assim que chegamos ao quarto, tínhamos uma enfermeira à porta:
- São os últimos familiares do senhor Sergio?
- Somos sim. 
- Estejam à vontade, se precisarem de alguma coisa estarei aqui fora.
- Muito obrigado - agradeceu o Ezequiel.
Entramos os dois no quarto...e...ver o Sergio naquela situação mexeu comigo. Em torno da sua cabeça tinha uma ligadura que, de certeza, era por causa da operação. 
Fui até junto da cama e agarrei-lhe na mão. O Ezequiel juntou-se a mim, colocando as suas mãos sobre os meus ombros. 
- Será que ele vai ficar bem? - perguntei. 
- Claro que vai, Ana. O Sergio é forte, todos vocês são, e ele vai safar-se e daqui a uns tempos vai estar a correr atrás da bola outra vez.
- Tenho tanto medo que ele não jogue mais...
- Ana, ele agora vai passar por um período complicado, vai estar sem jogar algum tempo, mas vai recuperar e lá o vamos ter de aturar porque o consideraram jogador da equipa ideal da FIFA. 
- Se assim fosse...eu não me importava nada de ouvir todos os dias as bocas dele.
- E vai ouvir! - o Ezequiel deu-me um beijo na nuca, colocando as suas mãos na minha barriga, o que fez com que o Enrique acalmasse. 
- Acho que tens de ouvir mais o teu noivo... - apesar de estar com os olhos fechados, o Sergio tinha falado...a voz saia-lhe arrastada, mas percebia-se perfeitamente o que é que ele disse. Ele agarrou na minha mão, levando-a até à sua boca, para de seguida beijá-la. 
- Sergio...
- Olá pequenina...
- Ai Sergio - inclinei-me sobre ele e dei-lhe um beijo na bochecha - tive tanto medo que te acontecesse alguma coisa, primo.
- E deixava cá todos vocês? 
- Não te canses... - a minha voz, misturou-se com as minhas lágrimas e o Sergio abriu os olhos. 
- Ei...não chores - agarrou-me a mão com mais força e eu encostei a minha cabeça no ombro dele - tu...tens de ter cuidado com o piolho.
- Está tudo controlado.
- Ezequiel...tens de tomar conta deles.
- Sempre Sergio. A Ana e o Enrique são duas peças frágeis. 
- Já decidiram o nome do puto...?
- Que é que achas, primo? - perguntei-lhe colocando-me direita. 
- É bonito... - o Enrique decidiu começar a jogar à bola na minha barriga nesse exacto momento. Peguei na mão do Sergio, colocando-a na minha barriga. 
- Consegues senti-lo?
- Consigo... - apesar de estar de olhos fechado, o Sergio sorriu - acho que não vamos formar...um central, Ezequiel. 
- Também acho que não! - o Ezequiel respondeu-lhe e os dois gargalharam. 
Nisto, somos interrompidos pela enfermeira que nos pediu para sair. Tinham de fazer exames ao Sergio. 
- Nós voltamos em breve, Sergio. 
- Cuidem-se - dei-lhe um beijo na bochecha e saímos os dois do quarto. 
- Estás mais descansada de que ele vai ficar bem?
- Mais ou menos...foi bom falar com ele, mas...tenho medo - comecei a ver tudo à volta e, se não estivesse agarrada ao Ezequiel, tinha caído redonda no chão. 
- Ei, ei...o que é que se passou? - perguntou ele, super aflito. 
- Foi uma tontura...
- Tu tens de descansar, Ana. Foi um dia complicado. 
- Sim...
- Estás a sentir-te bem? Se calhar é melhor chamar um médico. 
- Não...está tudo bem, Ezequiel. A sério...isto passa. 
- Ana...é a tua vida e a do nosso filho que está em causa. 
- Ezequiel...não sejas um pai super stressado. 
- Senta-te aqui - ainda não tínhamos chegado junto da minha família, mas realmente era melhor sentar-me - depois do sonho que tive, a tua gravidez é a minha prioridade. Estou atento a todos os teus sinais e esta tontura não me parece bem. 
- Foi só um sonho bebé... - dei-lhe um beijo suave nos lábios - eu estou bem e o Enrique também. Provavelmente foi da viagem, do stress...e estou com fome.
- Nós hoje já não ficamos aqui a fazer nada...vamos para casa, jantamos e descansas?
- Parece-me bem...
- Vá, vamos lá então - levantei-me bem, ao contrário do que o Ezequiel pensou. 
Fomos até à sala de espera e avisamos todos que íamos embora. Expliquei-lhes que estava cansada e todos concordaram que seria melhor ir descansar. Os meus pais vieram connosco, já que íamos ficar em casa deles. 
Depois de um jantar rápido, mas calórico, eu e o Ezequiel subimos até ao quarto que, na nossa primeira noite tinha sido nosso. 
- As recordações que eu tenho deste quarto... - comentou ele, enquanto que eu retirei a roupa e me deitei. Fiquei apenas de roupa interior, tapando-me com os lençóis e cobertores quentinhos.
Não demorou nada para que tivesse o Ezequiel a meu lado, só de boxers. Nenhum de nós desfez a mala, nenhum de nós estava com cabeça para isso. Acho que ambos vimos a cama e só nos quisemos deitar nela. 

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Peço desculpa pelo capitulo não estar grande coisa...confesso que não está como queria. Não estou concentrada para escrever estas coisas, isso irá reflectir-se no próximo capitulo. Irá haver um salto no tempo. 
Contudo, espero as vossas opiniões, sinceras. 
Muchas gracías por tudo!