quinta-feira, 9 de maio de 2013

39º Capitulo: "Temos de dar beijinhos a ela."

O Ezequiel afastou-se, eu levantei-me do sofá e subi para o meu quarto, onde...me perdi. 

(Ezequiel) 
- Poque é que ela foi emboa? - perguntou a Ana. 
- Porque...porque a Patrícia...ela não está bem pequenina. 
- Tá doente? 
- Não...mas a Patrícia...ela está como o pai. Pior ainda. 
- Como tu? - ela pareceu confusa...e eu sei saber o que lhe dizer ao certo. 
- A Patrícia também ficou sem uma pessoa de que gostava muito. 
- Como tu da mamã?
- Sim. 
- E ela tá tiste?
- Muito mais triste que o pai. 
- Temos de dar beijinhos a ela. 
- Temos, amor...mas não podes fazer essas perguntas assim pode ser? 
- Pode. 
- O pai agora vai ver como é que ela está, sim? 
- Poxo ir?
- É melhor ficares por aí. Depois eu chamo-te. 
- Tá bom. 
Levantei-me do sofá e subi até ao andar de cima. Fui até à portado quarto da Patrícia e bati:
- Posso entrar Patrícia? - não obtive qualquer resposta...nem ouvi qualquer tipo de barulho, nem um choro, ou um barafustar - Patrícia? - voltei a bater à porta e nada. Abri a porta devagar e espreitei - oh meu Deus! Patrícia - ela estava deitada no chão...e em volta dela poças de sangue cobriam o soalho. Ela estava inconsciente, estava pálida, sem qualquer tipo de reacção  Peguei no telemóvel e liguei de imediato para o 112: 
- 112, qual é a sua emergência? 
- Preciso de uma ambulância depressa para minha casa, tenho uma rapariga deitada no chão que acabou de se cortar. 
- Como é que ela se cortou? 
- Voluntariamente. Nos braços. Tem cortes profundos e outros não tão fundos - enquanto tapava os braços da Patrícia com lençóis, dei as indicações da morada e fui ter com a Ana. 
- Como é que tá ewa? 
- Pequenina... - peguei nela ao colo - vais ter de ficar com a vizinha sim?
- Poque?
- O pai tem de ir para o hospital com a Patrícia. 
- Mas ela tá doente? - abri a porta de casa e corri até à vizinha da frente, que costumava ficar com a Ana quando tinha algum imprevisto.
- Sim. Ela está doente, mas vai passar. 
Entreguei a Ana à vizinha, que não me fez qualquer tipo de pergunta, apenas lhe pedi que não deixasse a Ana chegar às janelas para não ver alguma coisa. 
Voltei a casa ao mesmo tempo que os paramédicos chegaram. 
- Onde é que está a rapariga? 
- Acompanhem-me - entrámos em casa e corremos até ao quarto dela. 
Continuava inanimada. Completamente sem vida. Começaram logo a cobri-la com cobertores, pois ela já estava a ficar fria, colocaram-lhe uma mascara de oxigénio e meteram-na na maca para a levarem para o hospital. 
- O senhor é da família
- Não não. Ela está aqui a passar uns tempos porque vai começar a estudar cá no próximo ano, mas sim...neste momento pode-se dizer que sou a família que ela cá tem. 
- Ela vai ser levada já para o hospital. Acompanhe-nos atrás da ambulância. 
- Com certeza. 
Levaram-na para a ambulância, enquanto que eu peguei na mala dele, onde tinha a carteira com os documentos. 
Segui a ambulância até ao hospital e em menos de 15 minutos já ela estava a dar entrada nas urgências. Preenchi os papeis e sentei-me na sala de espera. 
A parte mais complicada...esperar. 
As imagens começaram a aparecer na minha cabeça em câmara lenta...começando na cena toda da Patrícia, passando pela perda da Ana e acabando com a noite do assalto em minha casa...veio tudo no mesmo momento...mas havia apenas uma pessoa em quem pensava no meio disto tudo...na Patrícia. 
Ela tinha acabado de falar comigo...que os cortes tinham acabado. Por enquanto...mas voltar a cortar-se...assim? E o mais...surreal no meio disto, é que ela não se cortou onde se cortava...começo mesmo a sentir um carinho por ela que nem eu sei explicar...e...vê-la tão tranquila, mas ao mesmo tempo num estado terrível com...aqueles cortes, não sei...mas tenho a certeza que a tenho de proteger. Ela é frágil demais...sofre imenso e precisa de alguém. Ela não deve ter tido a ajuda que eu tive...por isso está assim. 
Chorava...por ela. Com uma vida ainda pela frente e a querer matar-se? É terrível só de pensar...então ela...sentir que deve morrer e tentar fazê-lo...
e mesmo... indescritível

5 horas depois:
Não sabia se havia de ligar ao Enzo, não sabia se havia de ficar calado...ela não quer que se saiba...mas eles têm o direito de saber. Mas ao mesmo tempo...eu prometi-lhe, que não lhes iria contar. 
E esta espera!? Está a dar comigo em louco! Passaram-se cinco horas desde que demos entrada no hospital e ainda não me tinham dito nada sobre ela. E eu já não sabia como estar: sentado, de pé, a andar ou apenas ali parado. 
Fui até ao fundo do corredor e quando estava a voltar, vi um médico a procurar alguém. Corri até ele: 
- Doutor...tem notícias sobre a Patrícia Lopez? 
- Está a acompanhá-la? 
- Sim. Já tem novidades? 
- Já sim. A menina Patrícia deu entrada nestas urgências com cortes nos braços, alguns mais profundos que outros. Tivemos de lhe parar as hemorragias, fechar os cortes mais profundos e teve de ser submetida a múltiplas transfusões sanguíneas, devido à quantidade de sangue que perdeu
- E como é que ela está? 
- Não lhe posso dizer que esteja bem...porque saberá que não está. Mas, fisicamente, irá recuperar. Está ainda inconsciente, mas acreditamos que em breve acordará. A única preocupação que temos neste momento é do estado psicológico dela. Era bom que ela consultasse um especialista. 
- Claro...acha que a posso ver? 
- Sim. Nós estivemos à espera que ela passasse para o quarto para lhe dizer. Vá até ao fundo do corredor, entre na ala dos quartos e ela está no 124. 
- Muito obrigado doutor - apertei-lhe a mão e segui as instruções que ele me deu. 
Entrei no quarto...ela estava com uma mascara de oxigénio, com os braços envolvidos em compressas ..todo aquele ambiente fez-me voltar a chorar...mas de alivio, por saber que ela está viva. Que ela...não abandonou a vida...que ela não...me abandonou. 
Cheguei perto dela, sentei-me na cadeira ao lado da cama e agarrei-lhe a mão, com cuidado. 
- Tens noção do que é que te foste fazer? Não é assim que podes resolver os problemas...tens de falar...com um psicólogo ou comigo - não a conseguia olhar...foquei-me na paisagem que se via da janela do quarto - o...que tu fizeste...tu pensaste no que podias estar a fazer? Olha se...os cortes fossem tão fundos que tivesses morrido? Ou...se eu tivesse chegado tarde demais? O que é que eu ia dizer ao teu irmão? E aos teus pais? Tu...Patrícia...tu tens de te agarrar ao bom da vida e não...ao passado. Tu sofreste...e eu também...mas não podes fazer isso. Pelos teus pais, pelo teu irmão, os teus sobrinhos...a minha filha...por mim, mas sobretudo por ti. Tu és linda, és uma pessoa maravilhosa, que apesar de estares à pouco tempo connosco. Passaram três anos desde a morte do Alonzo...e da morte da Ana...ainda dizem que não há coincidências...morreram os dois à três anos e têm o nome começado por A. Ninguém, nas nossas vidas, os irá substituir porque eles eram únicos...mas...depois de teres aparecido na minha vida...e na da Ana, eu sei que é possível que haja alguém em que eu me posso agarrar...em quem eu confio, em quem eu vejo...o futuro - olhei para ela...desde que me sentei na cadeira - se tu tivesses morrido...tudo isso ia por água abaixo. Tu és...essa pessoa em quem eu me quero prender, quero me agarrar a ti e...ajudar-te a ultrapassar as coisas, como me ajudaram a mim, és a pessoa em quem confio...eu consigo imaginar o meu futuro contigo - o que dizia, não era capaz de lho dizer cara a cara...chamei-me de cobarde mas se ela estivesse a ouvir o que lhe digo...eu já tinha terminado à muito tempo.

(Ana) 
Abri os olhos e...percebi que estava no hospital. Não, ainda não foi desta que morreste! Critiquem-me por ser fraca demais. Estão à vontade...mas a pressão de...puder namorar com o Ezequiel era muita. A Ana é pequenina, não entende e não tem culpa de nada, mas a insistência no assunto namoro...e depois do nosso momento...fui fraca demais.
Não tinha dores...como das outras vezes, estava tudo calmo...havia uma mistura do barulho das máquinas...e palavras do Ezequiel:
- (...) se tu tivesses morrido...tudo isso ia por água abaixo. Tu és...essa pessoa em quem eu me quero prender, quero me agarrar a ti e...ajudar-te a ultrapassar as coisas, como me ajudaram a mim, és a pessoa em quem confio...eu consigo imaginar o meu futuro contigo. - ele estava...a chorar e...a dizer coisas tão sinceras.
Não conseguia eu falar...por estar com a mascara de oxigénio e não sei se tinha forças na mão para o agarrar, como ele me agarrava. Comecei a tentar fazer força na mão, para que ela se fechasse e segurasse a mão do Ezequiel. Doeu...mas consegui.
Ele olhou para mim e, apesar de estar invadido por lágrimas, sorriu-me.
- Como é que te sentes? - eu não conseguia falar por estar com aquilo, mas fiz-lhe sinal com a cara de que estava mais ou menos - vou chamar o médico...para te puder tirar isso, sim? - abanei a cabeça positivamente e ele pressionou o botão vermelho.
Depressa duas enfermeiras chegaram ao quarto e pediram ao Ezequiel que sai-se. Retiraram-me o oxigénio e aumentaram a dose de soro. O médico também veio até ao quarto e começou a falar comigo:
- Como é que se sente? 
- Viva...
- Isso quer dizer, exactamente, o que? 
- Que...não morri. 
- Patrícia...que acha se a encaminha-se para um psicólogo?
- Já tenho. 
- Tem a certeza?
- Absoluta. 
- Vamos deixá-la descansar. Amanha voltamos cá de manhã, bem como o rapaz que a trouxe.
- Ele ainda está cá? 
- Está sim...mas precisa de descansar. 
- Pode pedir-lhe só para entrar um pouco?
- Claro. Mas descanse. Até amanhã. 
- Até amanhã doutor. 
Tanto o médico como as enfermeiras saíram e entrou o Ezequiel.
Eu tinha ouvido o que ele disse, sabia o que ele sentia...mas ele...ele não sabia que eu tinha ouvido, não sabia que o que ele sentia também eu sentia, que o que me fez cortar os braços foi o não saber lidar com os meus sentimentos...mas eu tinha de lhe contar.

4 comentários:

  1. aí...que capitulo lindo e ao mesmo tempo arrepiante :).
    próximo o mais rápido possível
    bj

    ResponderEliminar
  2. Adorei! (claro que pela forma como está escrito e não aquilo que aconteceu).
    Por onde é que eu vou começar? Bem não estava nada à espera desta recaída da Patrícia mas entendo que não tenha sido fácil de lidar com aquilo que sente pelo Ezequiel. Foram lindas as palavras do Ezequiel à Patrícia, é pena é ela não ter ouvido tudo mas ouviu o mais importante. Agora só espero que ela conte mesmo ao Ezequiel aquilo que sente por ele. Acho que ele pode dar bastante apoio, força e protecção à Patrícia. Ela bem precisa.
    Próxximmoo Ráápiddoo!!

    ResponderEliminar
  3. Aí, ela nao podia ter feito aqui :c
    Quero ver se esses dois se vão entender(;
    Beijinhos

    Nii'i

    ResponderEliminar
  4. Olá.
    Como diz a Sofia, não estava à espera desta recaída mas ainda bem que ela melhorou.
    Nem quero pensar se o Ezequiel chegava tarde de mais :s
    Sabes quando dizem que por vezes nos afeiçoamos a uma personagem ?
    "Passaram três anos desde a morte (...)...e da morte da Ana." ler isto ainda custa e ainda faz o meu coração apertar :'(
    Mas apesar de tudo espero que o Ezequiel e a Patrícia fiquem bem, se for preciso juntos...

    Beijinhos
    Daniela^^

    ResponderEliminar