Depois do Sergio sair de casa, ajudei a minha tia a arrumar a cozinha e ela foi comigo arrumar as minhas coisas num dos quartos de hóspedes da casa do Sergio que era o onde eu ficava sempre. Guardei só alguma roupa para a semana nas gavetas enquanto falava com a minha tia.
- É desta que o Sergio assentou?
- Penso que sim Ana. Ele está completamente diferente. Com 24 anos já está mais que na altura de assentar de vez.
- Que bom. Ele ainda parecia um adolescente.
- Ele mudou muito.
Ficamos as duas a falar no quarto até que o Sergio chegou. Fomos ter com ele/s à sala de estar. O Sergio estava acompanhado de uma bela rapariga de cabelos negros com ondulação e de um rapaz muito moreno, alto, bastante atraente até.
Antes que eu pudesse fazer alguma coisa, o Sergio veio ter comigo, agarrou-me pela mão e levou-me até à rapariga.
- Prima... o teu primo já não é o louco que era. Esta é a Mariza, a minha namorada. Mariza é a Ana a minha pequeña.
- É um gosto conhecer a pessoa que faltava da família do Sergio – disse ela.
- É um gosto ainda maior conhecer a pessoa que mudou o meu primo para melhor – cumprimentei-a com dois beijos e voltei-me a virar para o meu primo – já não vou ter o meu guia turístico da noite espanhola não é?
- Vai ser menos alucinante, mas vai haver noitadas até porque – ele voltou-se para o rapaz que estava na sala – temos um novo habitante em Madrid. Este é o Ezequiel – "Ezequiel"? Nome pouco comum... mas com algum encanto – Ezequiel, são a minha mãe, Paqui, e a minha prima, Ana.
- Es un placer muy grande conocerte – ui... espanholado! Era um tanto ou quanto diferente do meu espanhol ou do da minha família. Deveria vir de uma zona diferente de Espanha.
- Igualmente – disse a minha tia, indo cumprimentar o rapaz. Vi que ele se dirigiu a mim, pelo que me aproximei dele e o cumprimentei com dois beijos.
- Vamos sair hoje? - perguntou o Sergio - ou preferes ficar a descansar Ezequiel?
- Não, não. Quero ir ver essa noite madrilena.
- Ok. Vens connosco Mariza? - inquiriu o Sergio, virando-se para a namorada.
- Sim. Vou. Tens de me apanhar em casa. Não tenho carro.
- Claro – vi que ele se sentou, indicando ao Ezequiel e à Mariza para fazerem o mesmo. Decidi picá-lo.
- Estou a ver que já não se convida a prima agora...
- Não. A prima não tem direito a convite – atirou ele.
- Tá bom então. Vou ficar com a minha tia preferida, visto que o meu primo preferido só quer levar o menino novo na cidade e a namoradinha – já o Sergio percebia que eu estava a brincar e a minha tia também. Só mesmo a Mariza e o Ezequiel é que pareciam um pouco constrangidos com a situação.
- Até parece priminha...
- Sergio! Porque é que não levas a Ana também? - perguntou a Mariza.
- Achas que ela não vai? Esta perua nunca vai sair de ao pé de mim durante este mês.
- Vocês são sempre assim?
- Sempre Mariza – respondi eu - tem dias que é pior, tem dias melhores, mas no fundo, mesmo no fundo o Sergio é o meu irmão que nunca tive.
- E ela é a segunda irmã que nunca tive.
Ficamos ainda todos a conversar. O Ezequiel não se devia sentir ainda muito à vontade uma vez que estava muito calado. Acabamos por o instalar num outro quarto de hóspedes, ao lado do meu.
22:00h
Estava mesmo quase a despachar-me para ir sair com o Sergio, a Mariza e o Ezequiel. A única coisa que me faltava eram os sapatos e como estava quase tudo em malas estava a ser difícil de os encontrar.
- Ana – batem à porta sem a abrir, era o Sergio – ainda demoras muito? Tá na hora!
- Estou quase. É só encontrar os sapatos.
- Despacha-te. Estamos ao fundo das escadas à tua espera.
- Ok.
Continuei à procurar pelos sapatos até que os encontrei onde não era suposto. Estavam misturados numa das malas da roupa... não, não sou muito organizada a fazer malas.
Peguei na minha bolsa e no casaco caso tivesse mais frio e sai do quarto. Desci as escadas mais rápido do que o normal e acabei por apanhar os rapazes no meio da conversa.
- Já sabes que esperar por mulheres é sempre melhor ficar sentando – era a voz do Ezequiel. Para quem esteve muito caladinho à tarde, estava a começar a espertar.
- Se não querem esperar por coisas boas podiam ter ido logo embora. Estou pronta
Eles ficaram os dois a olhar por mim... provavelmente por não estarem nada à espera que eu chegasse. O Ezequiel ficou com os olhos mais arregalados do que sei lá o que e o Sergio começou a caminhar para a porta.
- Prima, hoje já estamos atrasados, mas tens de começar a olhar para a tua indumentária.
Saímos de casa e entramos no carro do Sergio. Eles iam à frente e eu atrás.
- Que é que tem a minha roupa Sergio?
- Podes constipar-te.
- Deixa-me rir. Sergio... eu sempre andei assim.
- Eu sei... mas agora tens de começar a ter mais cuidado.
- Com o que?
- Com os olhos alheios – vi que o Sergio olhou para o Ezequiel.
- Sergio! Acho que neste carro todos temos mais de 20 anos. Pode não parecer aí à frente, mas é verdade.
- Sim, sim. Mas tem cuidado com o que fazes.
- Não é por ter uma noite mais escaldante com alguém que deixo de ser o que era ontem.
O Sergio nada disse, simplesmente ligou o carro e começou a conduzir, antes de irmos a uma discoteca, que não fazia ideia qual era, iríamos buscar a Mariza.
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