14º Capitulo: Família

Estávamos os dois deitados na mesma espreguiçadeira, o Ezequiel quase completamente deitado em cima de mim e a mexer-me no cabelo. 
- Era capaz de me habituar a esta vidinha, sabes? - comentei. 
- Então e porque é que não te habituas... eu não me importava nada de te ter sempre aqui. 
- É... e o salão fica para lá sozinho. 
- Oh, mas a patroa não tem direito a tratar das coisas à distância?
- Tem... e para a semana já posso começar a fazer isso e passar mais tempo fora do salão, mas até agora estive sempre sozinha. 
- Vais ter quantas pessoas para te ajudar?
- Duas.
- Ainda bem que conseguiste realizar o teu projecto. 
- Custou tanto ao inicio... mas agora está a ser tão recompensador.
- E eu tenho muito orgulho na minha menina. 
- Oh... - dei-lhe um beijo - eu também tenho muito orgulho em ti. És uma pessoa linda, mi hombre. 
- Tu também és linda, mi corazón - ele ia a dar-me um beijo, mas tocam à campainha - mas quem é que se decide a interromper este momento? 
- Não sei... mas se fores abrir a porta ficas a saber.
- Não! - ele deitou-se e voltaram a tocar à campainha. 
- É melhor ires lá. 
- Sim... - ele levantou-se e eu vesti a T-shirt dele para não estar só em lingerie.
- Isto são maneiras de se receber uma pessoa? - falou um homem com um sotaque idêntico ao do Ezequiel. 
- Pai!? Que bom vê-lo!
Pai!? Oh meu Deus! O Ezequiel em boxer's, eu neste estado e o pai dele à porta. Isto não pode estar a acontecer. 
Levantei-me e ainda tentei ir buscar a minha roupa para a vestir, mas foi nessa altura que o Ezequiel veio ter comigo. 
- O meu pai está na sala... 
- Até aí eu já tinha chegado, espertalhão - falei um pouco assustada e ele ficou a olhar para mim - desculpa... não querias que eu esteja à espera que o teu pai apareça neste momento. 
- Eu sei... vem, vou apresentar-to. 
- Neste estado!? Deixa-me vestir ao menos...
- Acho que essa T-shirt te fica melhor a ti do que a mim - ele colocou a sua mºao no fundo das minhas costas, puxou-me para ele e deu-me um beijo - era pior se não tivesses nada vestido. 
- Não gozes!
Deu-me a mão e levou-me até à sala. O pai dele estava a ver umas fotografias que estavam na prateleira... algumas delas ainda eram com a Tamara. 
- Pai? - chamou-o o Ezequiel. O senhor voltou-se para nós e ficou com uma cara completamente sem expressão alguma. Ele começou a caminha até nós e o Ezequiel falou - sei que estava à espera que tivesse ido buscar a Tamara... mas, a verdade, é que nós já não estamos juntos. Eu segui o meu coração e fiz o que ele me disse. Pai... esta é a Ana, a minha namorada; Ana... é o meu pai, Juan. 
- Muito gosto - falei a medo. Estava com medo da reacção que ele pudesse ter... O senhor acabou por sorrir. 
- Igualmente querida - deu-me dois beijinhos e olhou para o Ezequiel. Confesso que fiquei surpreendida. 
- É a Ana... a rapariga do Verão em Madrid - falou o Ezequiel, fazendo com que eu olhasse imediatamente para ele. 
- A dona do coração do meu filho... fico muito feliz que tenhas seguido os meus conselhos, Ezequiel. 
- Vai contar à mãe? 
- Não... tens de ser tu a contar-lhe. 
- Mas ela está cá?
- Sim. E os teus irmãos também. 
- Vocês estão onde?
- Num hotel aqui perto. 
- Então venham cá para casa. 
- Não... achas? Iríamos estragar os vossos planos todos.
Não me contive e não me consegui não rir. 
- Desculpem estar a intrometer-me, mas venham para junto do Ezequiel. Os nossos planos para o fim de semana podem muito bem ser em conjunto convosco. 
- Sim, pai, a Ana tem razão. Eu vou consigo buscar a mãe e os manos. 
- Não... sendo assim eu vou ter com eles e vimos cá ter. 
- Eu vou consigo. Está decidido. Vou só vestir qualquer coisa. 
O Ezequiel foi até ao andar de cima e eu e o pai dele ficamos no sofá a ter uma típica conversa de ocasião. 
O Ezequiel voltou à sala, o pai dele levantou-se e encaminhou-se até à porta. Mi hombre veio até mim e deu-me um beijo. 
- Eu já volto... não saias daqui. 
- Não vou a ladinho nenhum. Preparo um lanchinho para os receber? 
- Parece-me óptimo, mi reina - não esperei aquela palavra e ficamos os dois a olhar um para o outro - faz muito mais sentido chamar-te a ti de reina.
- Vai ter com a tua mãe e os teus irmão, mi rey - ele voltou a dar-me mais um beijo e saiu com o pai. 
Eu fui vestir a minha roupa, dei um jeito ao cabelo que estava todo emaranhado e fui preparar o lanche. 
Os irmãos do Ezequiel eram mais novos que ele, por isso, preparei uns croissants com fiambre, outros com queijo e um sumo de laranja natural. Coloquei tudo na mesa que o Ezequiel tinha no exterior e aguardei a chegada de todos. 
Depois de ter tudo pronto passaram mais cerca de 30 minutos. 
Quando eles chegaram, levantei-me do sofá e fiquei sem saber ao certo o que fazer. Vinham todos animados, os primeiros a entrar foram o Ezequiel e o pai, para de seguida entrar uma senhora muito bonita e duas crianças adoráveis, a cara chapada do Ezequiel. 
- Onde é que está a Tamara? - a mãe dele ainda não me tinha visto quando fez tal pergunta. Quando os seus olhos foram de encontro com os meus, acho que a senhora teve um ataque de surpresa super gigante. 
- Madre... eu já não estou com a Tamara - o Ezequiel olhou-me e esticou a mão dele. Eu fui ter com ele e dei-lhe a mão - não dava mais, e a mãe sabe disso... estou agora com a mulher que amo. É a Ana; Ana é a minha mãe... Ayelen. 
Fiquei sem saber como me chegar à senhora, mas foi ela quem tomou a iniciativa. 
- Muito gosto.
- Igualmente - fui até ela e dei-lhe dois beijinhos. 
Não tivemos muito tempo para falar, pois o Ezequiel puxou-me logo para junto dos irmãos dele. 
- Meninos, esta é a Ana... ela é a minha namorada. Ana são a Floréncia e o Ignacio. 
- Olá Ana! - disseram-me os dois super contentes. 
- Olá. Vamos lanchar? - perguntei-lhes.
- Sim. 
- Então venham - começamos a caminhar os três e levei-os até ao jardim para lancharmos. 

(Ezequiel)
O dia de hoje está a ser uma loucura... primeiro conheci a mãe da Ana, agora a Ana conhece os meus pais e os meus irmãos... tudo no mesmo dia. 
A Ana estava super à vontade com os meus irmãos... um pouco menos à vontade com a minha mãe, mas isso também porque a minha madre é de cabeça dura. 
- Mano... vamos jogar à bola? - perguntou o Ignacio ao Ezequiel. 
- Ignacio... o mano tá cansado, vai brincar com a mana - respondeu a minha mãe. 
O menino ficou um bocadinho triste. 
- Posso jogar contigo? - perguntou-lhe a Ana. 
- Tu não sabes jogar! - respondeu-lhe prontamente o meu irmão. Eu e a Floréncia desmanchamo-nos a rir. 
- Sei sim! Melhor que o teu irmão. 
- Não precisas de ofender dessa maneira... - falei. 
- Só estou a contar a verdade ao teu irmão. Ele merece saber. 
- Então vamos jogar os quatro. Rapazes contra rapariga. Assim vemos quem ganha - sugeri. 
- Na boa! 
Levantamo-nos os quatro da mesa e, para ser mais justo, uma vez que as meninas estavam de chinelos de praia, jogamos os quatro descalços. 
Estava a ser a loucura o jogo, a Ana tentava a todo o custo marcar golo, mas ao mesmo tempo tentava mandar-me ao chão. E a Floréncia acabava por fazer o mesmo ao Ignacio. 
Foi quando estava a olhar para a minha mãe que estava a dar valentes gargalhadas com as nossas figuras que a Ana me conseguiu mandar ao chão.
- Moche ao Ezequiel! - gritou ela. 
Os meus manos vieram a correr e meteram-se todos em cima de mim. Ficaram alguns segundos a fazer mossa e quando se levantaram foi a minha vez de me vingar. Mandei a Ana para o chão e, com cuidado, meti-me em cima dela, gritando - moche à Ana! 
O resultado foi o mesmo e a diversão essa não faltou nos momentos que se seguiram.
Ficamos os quatro a brincar na relva enquanto a minha mãe e o meu pai se instalavam. 
Quando a hora de jantar chegou, chegou com ela a maior felicidade do meu dia.