27º Capitulo: Somos nós - Parte I

(Ana)

Fiquei a observar toda aquela cena e quando o Ezequiel largou a rapariga que tinha nos braços, os nossos olhos cruzaram-se, mas depressa se largaram uma vez que ele foi levado para embarcar.

A rapariga que estava com ele, olhou-me e fez-me sinal que esperasse.

- Vais esperar? – Questionou a minha.

- Sei que pode vir dali problemas, mas quero esperar. Importas-te?

- Não…só quero é que não te enerves.

- Não vou, mamacita. Mas vai andando para o carro.

- Tens a certeza?

- Tenho.

- Se assim preferes.

A minha mãe levou uma das minhas malas e eu aguardei a chegada da rapariga. Demorou cerca de dois minutos a chegar junto de mim.

- Hola! – Era argentina também…conseguia perceber a diferença entre o espanhol.

- Pediu-me para esperar…

- Sei que deves estar a pensar mil e uma coisas…mas nada do que te vai na cabeça é verdade.

- Não? Como sabes?

- Porque sei…sou mulher e tenho um homem que se fosse como o Ezequiel tinha de se por a pau comigo.

- Um homem…

- Sim. Eu tenho noivo, que é grande amigo do Ezequiel. O Saviola.

Oh…não! Os filmes que eu já estava a fazer… o que eu já estava a pensar. O Ezequiel não me estava a enganar com outra…mas o que fazia ele agarrado a ela?

- Desculpa.

- Não és tu quem tem de pedir desculpa…aquele rapaz é que tem.

- Hã?

- Eu e o Saviola sabemos do que vocês estão a passar…e o Ezequiel é um teimoso. Ele próprio admite isso, mas não consegue fazer nada.

- Eu também não vou fazer mais nada…nós precisamos de estar sem stress, antes que volte a ir para o hospital.

- Hospital?

- Sim…deves saber das chamadas e das mensagens.

- Sim, sei…e se fossemos falar para outro sítio?

- Pode ser.

Caminhamos as duas até ao exterior do aeroporto. Estava lá a minha mãe. Apresentei-as e pedi à minha mãe que levasse a minha mala para casa, uma vez que ia com a Romanela, no carro dela, para nossa casa.

Não demoramos muito a lá chegar, e fiquei super surpreendida pela recepção do Lucky.

Fiquei com a Romanela no sofá e enquanto bebíamos chá contei-lhe tudo o que se tinha passado em Madrid…contei-lhe da minha gravidez.

- E ele não sabe de nada? – Perguntou ela escandalizada.

- Não…e eu desisti de insistir…se ele não quis saber, não vou insistir.

- Mas queres que ele saiba…

- Claro. Ele é o pai da coisa que eu mais queria no mundo, e não sabe porque é teimoso.

- Queres que eu lhe ligue…e falas com ele?

- Não sei…

A Romanela pegou no telemóvel e começou a chamada.

- Tienes que hablar con tu vida – ela passou-me o telemóvel, levantou-se e foi para a cozinha, onde estava a minha mãe.

“- Romi…que estás a dizer?”

- Ela passou-se o telemóvel – falei em seco.

“- Ana…”

- Eu mesma.

“- Como estás?”

- Bem…e tu?

“- Mal. Fui um parvalhão contigo, um casmurro e teimoso de primeira. Pedoname.”

- Foste…

“- Desculpa…a serio. Mas…eu sou assim e tu sabes.”

- Mas era preciso teres ciúmes do meu primo?

“- Não sei o que me deu…só queria estar contigo.”

- E acabaste por ficar a perder…a minha ideia era ter passado o fim-de-semana lá e vir ter contigo, seu parvo!

“- É mesmo necessário ofender…eu sei que fui um parvalhão, mas não é preciso insistires.”

- Tenho saudades tuas… - acabei por confessar e do outro lado da linha ouviu-se um suspiro.

“- Vem ter comigo…eu também tenho saudades tuas, mi reina.”

- No puedo…

“- Porque não? É só vires de avião para a Suíça e alguém te vai buscar.”

- Não posso Ezequiel…tenho de evitar andar de avião. A viagem de ida e volta foram demais.

“- Demais porque?”

- Pelo que te tenho para contar…

“- Aconteceu alguma coisa? Estás bem? Foram imensas chamadas e mensagens…Ana, tu estás bem? Diz-me o que se passa.”

- Se estavas assim tão preocupado devias ter atendido as chamadas, ou ter respondido às mensagens…deverias ter ido ter comigo e estar a meu lado como a Tamara esteve.

“- Quem?”

- Sim…ouviste bem, ela esteve comigo no dia mais feliz e mais triste da minha vida. E tu? Tu que és o responsável de toda a minha felicidade não estás… - neste momento, e ao recordar o turbilhão de emoções que tinha sentido naquele dia, desfiz-me em lágrimas.

“- Não chores…por favor. Conta-me o que se passa.”

- O que se passa…eu conto-te. O que se passa é que tenho dentro de mim, a crescer completamente com a falta da protecção do pai, o teu filho…

Do outro lado da linha nada ouvir…nem um ai, imperava um silêncio entre nós. Comecei a achar que ele não queria o bebé…a achar que não lhe devia ter contado, nem devia sequer estar a falar com ele.

Um soluçar fez-se ouvir…e foi então que percebi. Ele estava a chorar.

Comecei novamente a chorar. Estávamos os dois em sintonia e o nosso choro complementava-se um ao outro.

“- Desculpa, desculpa, desculpa.” – foram as primeiras palavras que lhe saíram pela boca – “Ana…desculpa. Eu sou tão otário…eu devia ter estado contigo…com vocês.”

- Tu não fazes a mais pequena ideia do que eu passei…eu fui parar ao hospital, pouco depois de chegar a Madrid, e os médicos engonharam no que me tinham para dizer e só pensava no pior…só pensava que ia morrer e que tu não estavas comigo.

“- Ana…não há maneira de te pedir desculpa pelo que fui…só te posso garantir que eu sou vosso, serei vosso e protegêreis-vos aos dois até ao meu último segundo de vida.”

- Eu preciso de ti…preciso do teu abraço, de um abraço dos teus.

“- Amanha…amanha eu vou para aí.”

- Não! Tu estás em estágio.

“- São assuntos familiares, eles entendem. Quero estar com a minha família e passar tempo com vocês…quero conhecer o nosso minimeu.”

- Vem…vem…vem, vem mesmo! Eu preciso de ti.

“- Eu vou meu amor, ou ainda esta noite, ou amanha.”

- Estamos a gastar o saldo à Romanela… - acabamos por soltar os dois um riso completamente em uníssono.